O que motiva a permanência?
Segundo o filósofo Baruch Spinoza, “afeto” é um estado da alma, que faz com que a pessoa tenha mais ou menos disposição de agir e reagir, dependendo da forma como é afetada e deseja afetar o outro. Atafona afeta seus moradores e visitantes. E a reação deles é agir para se adaptar e permanecer. E aproveitar o convívio com este lugar, enquanto isso for possível.
Esse tipo de laço afetivo da pessoa com o território é percebido em todos os relatos femininos mapeados durante o projeto de Pesquisa e Preservação da Memória. E é elemento fundamental para garantir a intenção de regeneração, resistência e permanência.
No livro “Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente”, o geógrafo sino-americano Yi-Fu Tuan apresenta o entendimento de que essas conexões com o lugar são sempre únicas e humanísticas, pois partem de uma vivência pessoal. Uma construção de identidade de lar que é experiência intransferível.
Em lugares de catástrofe, em que houve morte ou destruição, como é o caso de Atafona, junta-se uma camada de delicada importância: o trauma emocional pela perda da identidade de lar. “A moradia sustenta parte considerável da autoimagem de uma pessoa, situando sua vida tanto geograficamente quanto psicologicamente. De certa forma, o espaço físico projeta a singularidade das trajetórias pessoais e profissionais, apresentando-se também como um instrumento de individuação”, explica a psicóloga Barbara Caneira Reis.
A busca por reconstruir a vida em outra casa, em local próximo à perda original, pode ser parte dessa incansável luta por manter viva a própria identidade individual. Se reconhecer no que já é familiar, retomar o ponto de partida, para então, a partir deste momento, conseguir conscientemente dar novos passos em busca de um futuro cheio de possibilidades.