ENTREVISTAS:
8 MULHERES DE ATAFONA

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Lúcia de Jesus

por Ana Luiza Cassalta

Lúcia de Jesus participa do projeto Mulheres de Areia, Memórias de Atafona
Lúcia de Jesus / Foto: Flávio Veloso

Transformando Atafona através da criação dos filhos e do apoio feminino

Lúcia de Jesus é hoje vice-diretora da Cooperativa Arte Peixe, artesã e dona de casa. Nascida no Farol, começou a trabalhar com 12 anos, ajudando o pai na roça, na pesca e também em casa de família, cozinhando, fazendo a limpeza e cuidando de outras crianças.

Foi uma transformação, porque, lá no Farol, era uma vida boa com minha família, mas a gente não tinha conhecimento. Isso tudo eu tive aqui em Atafona. Nos últimos anos, fiz muitos cursos, muitos cursos mesmo. Entrava e terminava. Não parava no meio do caminho não.

A vida do dia a dia aqui é de um lugar calmo, bom no verão e no inverno. Não é só para veranistas, como era no Farol. É um lugar bom pra se viver. E que pode melhorar se as pessoas se unirem mais, pensarem mais no grupo, na comunidade. Assim vai poder melhorar o estilo de vida das pessoas, dos pescadores, das mulheres dos pescadores, das famílias todas. 

Tudo isso já mudou bastante a minha vida e a da minha família. Me deu conhecimento, amizades e força”.

Pescadores ao redor

Meu avô era pescador, meu pai foi pescador, meus irmãos foram pescadores, meus genros são pescadores. E eu também nunca deixei de ajudar na pesca e de pescar também.

Eu me inspirei muito, muito mesmo na minha sogra. A minha sogra foi minha segunda mãe ou mais que minha segunda mãe. Sempre ali, saudades da minha sogra. 

Ela está perto de Deus hoje em dia. Ela, meu sogro, meu pai, muita gente. E eu estou aqui. Até a hora que Deus quiser. 

O que eu tento passar pras minhas filhas e pros meus netinhos é que eles precisam participar das oportunidaes. Eu convido eles pra participar das reuniões comigo. Hje eu participo da Cooperativa Arte Peixe, dos eventos do Pescarte, até viajo em eventos. 

Eu tenho uma neta de 18 anos que já pensa assim. As novas gerações já pensam mais assim, de estudar, de se unir. Ela já disse que quer ir comigo até Macaé, quando eu for lá participar de alguma reunião, para conhecer. 

Os jovens já sabem que têm que estudar pra conseguir as coisas. A maior parte não quer virar pescador, porque enxerga que a vida é muito sacrificante. Eles têm que estudar pra ter mais oportunidades. 

Nesse projeto do Pescarte, que eu participo, eles precisam de vários tipos de trabalho. Do advogado à pessoas que limpa o pescado. Todo mundo é importante.

Pra quem vive da pesca está mais difícil. Toda essa questão ambiental tem prejudicado o trabalho deles. Espero que consigam concluir o que desejam de bm pra vida deles.” 

Novos papéis para as mulheres

Lúcia é uma artesã dedicada. Pesquisa novas formas de produzir peças que encantam seus clientes. Afinal, quando se imaginaria que com casca de cebola é possível obter coloração para tingir escamas de peixe e transformá-las em biojoias, como brincos e colares? E é através das redes femininas que ela passou a frequentar, que esse engajamento diário ganhou força. 

“Eu acho que as mulheres tinham que se unir mais. A gente vai conhecendo pessoas, vai participando das oportunidades, vai se abrindo mais, tendo mais conhecimento, se sentindo melhor.

Mas só você falar não resolve. A pessoa tem que experimentar, tem que ver. Não tem aquela história, do tem que ver pra crer? É assim, somente participando é que a gente percebe a mudança. 

Eu convido minhas filhas, as outras moradoras para saírem, pra conhecerem coisas diferentes. Quando as mulheres estão em contato, uma apoiando a outra, faz muita diferença. Antes eu também não saía.

Eu falo pra elas entrarem em cooperativa, formarem grupos de mulheres, pra uma dar força pra outra. Porque os homens vão pescar e, muitas delas, ficam cuidando da casa e da família, esperando eles voltarem.

Vai que um dia não tem uma pescaria boa. Aí elas têm o que de renda para contar pro sustento da família? Elas precisam ter seu espaço, o dinheirinho delas do outro lado também.

Assim como eu entrei na cooperativa, eu também faço meus artesanatos, meu crochê. A gente tem que aprender a saber lidar com isso. E poder ser mais independente do homem também. Porque às vezes, muitas mulheres ainda dependem do dinheiro e do apoio do homem.

Eu faço minhas coisas, eu saio, eu faço meu crochê em casa, faço meus artesanatos. Se precisar sair mais, falo com meu marido e vou nas reuniões. Eu não estou fazendo nada errado. É bom encontrar as outras mulheres e conseguir vender meus produtos”. 

Projeto de Pesquisa e Preservação de Memória - Lei Paulo Gustavo - Edital Diversidades em Diálogo RJ 2023

Idealização: Ana Luiza Cassalta e Flávio Veloso

      REALIZAÇÃO:

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